Visite Foz do Iguaçu

Caro leitor, transcrevo-lhe aqui uma carta enviada ao amigo Gustavo, de Porto Alegre.


Foz do Iguaçu, 06 de março de 2010.


Querido amigo,

escrevo para falar das novidades. Há exatos três anos, tive que deixar Porto Alegre, cidade acolhedora e orgânica e aventurar-me, novamente, em minha terra natal: Foz do Iguaçu. Confesso ter perdido noites inteiras de sono nos dias que precederam meu retorno, por diversos motivos, sendo o mais importante deles a “falta de perspectiva”, sempre presente em meus discursos no período em que deixei a fronteira e fui tentar a vida em outros lugares do Brasil. Na época de minha saída, 1999, pouco se falava em desenvolvimento por aqui. A cidade ainda vivia a decadência do ciclo de compras e sofria com a crise, a falta de emprego para toda a minha geração e, principalmente, com a estagnação econômica. Embarquei, assim, em um final de tarde, para qualquer lugar longe daqui e, alguns anos depois, como sabe, fui parar aí no Sul, onde aprendi, entre outras coisas, a brigar pelos ideais, por mais contrários a situação vigente. Sempre me admirou muito a capacidade dos moradores de seu estado em comprar uma briga e, é claro, levá-la até o final.

Certo dia, como já relatei a você, estive em Foz para visitar meus pais e encontrei as pessoas falando sobre investimentos federais, universidades, desenvolvimento sustentável, etc. Palavras comuns na literatura social deste século, mas muito distante, até ali, da minha concepção de Foz do Iguaçu.

Aqui faço uma pausa para relembrar que nós, os humanos, somos miseráveis e injustos por natureza.

Enfim. Senti-me na obrigatoriedade de voltar. Alguns amigos, iguaçuenses fugitivos, espalhados pela Brasil, podem confirmar minha cruzada de tentar convencê-los a também retornar. Fui chamado de “louco” diversas vezes, principalmente quando afirmava acreditar que, se voltássemos, poderíamos ajudar a mudar os rumos de Foz, nem que fosse com nosso singelo trabalho “formiguinha”. Ouvia frases do gênero “... coisas estabelecidas”, “... cidade de oligarquias”, “... não temos como ajudar aquele lugar”. Foi um longo trabalho, mas alguns de nós (de minha geração), como eu, arrumou a malinha e embarcou no primeiro avião de volta pra cá. Conheço muita gente que, em 2007, “pagou pra ver”.

Hoje se fala de Unila, nossa Universidade Federal. Hoje se fala de Planejamento Urbano. Hoje se fala de Hospital Municipal. Hoje se fala de estudos de qualidade do ar, de qualidade no trânsito, de qualidade de vida, de qualidade na gestão de Saúde Bucal, de investimentos em infra-estrutura e de expansão do acesso aos serviços básicos. Aqui, como em Porto Alegre, temos uma Feira do Livro. Hoje, caro amigo, aqui em nossa terra se ouve, não só dos governante, mas dos cidadãos, sobre desenvolvimento e crescimento sustentável. Aquele seu papo de “vou até sua cidade pra comprar uísque”, pode ser reformulado. Agora você pode vir pra fazer mestrado e incubar uma empresa no Parque Tecnológico de Itaipu. Agora você pode vir, como sei que é médico, para trabalhar no programa Saúde da Família. Pode visitar nossa cidade e não ficar apenas um final de semana, só para ir fazer compras ou visitar quedas d'água. Pode também fixar residência ou passar, pelo menos, uma semana, participando de nossos congressos científicos. Pode trazer sua esposa, pedagoga, para conhecer nossas escolas municipais, para onde os pais, que antes pagavam ensino privado, levam agora seus filhos, permitindo a eles diversidade e pluralidade.

Meu caro, desculpe se antes eu nunca havia lhe convidado formalmente a conhecer minha cidade. Mas hoje fica aqui meu convite: visite Foz do Iguaçu. Venha ver com seus olhos como estamos conseguindo, de um mar de problemas, construir uma cidade, ou melhor, construir novamente o que, durante muitos anos, o ilícito e as oligarquias (que estamos liquidando, uma a uma) construíram de forma errada.

Saudades.


* Luiz Henrique Dias é escritor, ator, estudante de Arquitetura e Urbanismo e Ciências Sociais e Secretário de Organização Política do PCdoB de Foz do Iguaçu. Ele é daqueles cara sonhadores. Siga-o no twitter pelo @luizhdias ou acesse seu blog: acasadohomem.blogspot.com .