O ponto de partida essencial para a política de quadros contemporânea é a estratégia e caminhos propugnados pelo novo Programa Socialista. O centro da estratégia definida é alcançar hegemonia. No caso, a necessidade de uma luta tenaz e prolongada na luta patriótica, anti-imperialista e socialista, no terreno político, da luta social e de ideias, acumulando forças. O PC luta pela liderança política, intelectual e moral, capaz de elevar os trabalhadores à condição de classe nacional dominante na sociedade. A organização política precisa se fazer funcional a isso. A própria força da organização política é parte da luta pela hegemonia. Se a política não se comprova justa na prática, sem dúvida pode conduzir o próprio partido a impasses, também no terreno organizativo; mas aí o debate é igualmente sobre a justeza da política.
No nível posto da luta em nosso país, o PCdoB é ainda muito pequeno para fazer face à estratégia proposta. O PC no Brasil precisa ser mais extenso em militância, forte política e eleitoralmente, influente no plano das ideias e ser a representação dos interesses dos trabalhadores para liderar o povo. Presente na luta social – aí residem as forças motrizes da luta – mas não apenas no ativismo político-social ou eleitoral, como também na luta pelas ideias do Programa Socialista e da união do povo em prol de suas conquistas.
Um partido cuja militância atue em cada acontecimento com essa perspectiva, nos movimentos sociais e da sociedade civil, nos governos e nas ruas, na academia ou nas artes, na cultura e na ciência, no seio das instituições de Estado estratégicas para o desenvolvimento do país. Militância e quadros presentes em todos e cada um desses campos visando ligar cada luta específica ao objetivo maior, mediante pensamento crítico, elaboração e ação política.
Precisa-se de forte organicidade militante desde a base, em variadas formas, e uma extensa estrutura de quadros, para dar coesão e governabilidade ao partido. A primazia nessa questão reside na questão dos quadros – nela está a garantia de não descaracterizar o partido com o crescimento extensivo de suas fileiras.
A política de quadros atualizada é parte desse todo maior. É preciso formar e pôr em ação uma multidão de quadros, de uma infinidade de tipos, para liderar o projeto do PCdoB na sociedade. Quadros com consciência revolucionária, marxista e leninista, preparados política e teoricamente, representativos, qualificados e influentes na sociedade.
Quadros trabalhadores, jovens e mulheres, formados na luta de idéias e luta política; quadros da luta social, dirigentes de partido, organizadores, tribunos populares; quadros intermediários e de apoio ao trabalho militante desde a base; lideranças eleitorais, artistas e agentes da cultura, econômicos, técnicos, de Estado; quadros na mídia, na SBPC, nas Forças Armadas, no Judiciário – porque não?
Quadros são definidos no Estatuto: se é ou se está quadro, dependendo das circunstâncias de suas responsabilidades no partido e na sociedade. Não são quadros apenas os das estruturas formais dirigentes de partido; também eles, pela importância insubstituível que têm na edificação partidária.
É preciso garantir um partido unido, combativo e influente; capaz de articular a ação em todos os terrenos táticos com a acumulação de forças; alcançar uma militância extensa mais estável e com maior organicidade. Se alcançarmos uma terceira vitória do povo nas eleições de 2010, podemos marchar para uma realidade de centenas de milhares de membros. Como vamos dirigir esse partido, dar-lhe governabilidade?
Essencialmente pelos quadros. Diz-se que a ideologia é o amálgama do PC; os quadros são sua alma. A governabilidade do PC de massas é dada pela governabilidade dos quadros.
Como tudo na vida do partido, a política de quadros atualizada tem um primado político. Em primeiro lugar, lidar com a formação da nova geração política dirigente do partido, nas condições de nosso tempo. Indispensável, não se dará espontaneamente.
Em segundo lugar, para dar organicidade à militância partidária desde a base. Uma multidão larga de quadros intermediários e de base: eles são os pivôs indispensáveis da ação e estruturação partidária e da organicidade da militância.
Em terceiro lugar, quadros da juventude, trabalhadores, mulheres e os mais diretamente atuantes na luta de ideias. Todos devem ter destaque, por razões estratégicas – são as forças motrizes da luta. Na luta de ideias, de modo particular – porque é onde as coisas estão mais atrasadas – é imperioso ligar seu labor à idéia e luta pelo fortalecimento da Nação e o socialismo.
Sua formação se dá em meio aos condicionamentos do presente, que diferem daqueles da trajetória da atual geração política dirigente do PCdoB. O documento fornece uma abordagem ético-normativa e moral renovada para a sua formação. Evidencia os compromissos do partido ao lidar com os quadros, como modo de solicitar deles a recíproca para com o partido, constituída em bases político-ideológicas, com disciplina livre e consciente.
Propõe um movimento de maior consciência teórica, renovação e alternância, qualificação, especialização e representação social dos quadros. O caminho é valorizar os vínculos de consciência, constituir amplos canais de debate e garantir a institucionalidade partidária. A recíproca esperada é o da auto-qualificação, atividade crítica, zelo pela vida partidária e pelos valores éticos por parte dos quadros.
Poder-se resumir concentradamente: vida partidária coletiva; ninguém se pôr acima do partido, todos se comprometerem com a unidade e o centralismo democrático; estabelecer entre os quadros e o partido uma relação de respeito recíproco, com métodos políticos, participativos e persuasivos, no rumo do projeto político.
A política de quadros é compreendida, em última instância, como o estabelecimento de liames para ligar o trabalho de cada um ao projeto partidário, em diversos modos e graus. Abrange o conhecimento adequado dos quadros, formação sistemática, promoção e alocação justas, avaliação e controle coletivo. O produto mais imediato será a constituição de Departamentos de Quadros no âmbito das secretarias de organização.
Em ligação com o debate programático, a política de quadros contemporânea revoluciona a cultura político-organizativa do PCdoB. Demandará tempo para se consolidar e frutificar, com esforços sistêmicos de todo o coletivo. Está destinada a possibilitar ao PCdoB estar à altura efetivamente de lutar pelo seu programa político.
Walter Sorrentino