*Luiz Henrique Dias
Lembro-me da infância feliz que tive na Vila A. Morava perto do HI (atual Costa Cavalcante) e, como não havia tantos assaltos naquela época, eu e meus amigos nos aventurávamos por toda o bairro, desbravando os bosques, as matas, os riachos, os parquinhos, as ruas “sem saídas” e, é claro, o gramadão, onde jogávamos futebol, empinávamos pipa, descíamos o desnível com papelão ou bicicleta. À noite, organizávamos encontros, líamos histórias de terror e montávamos pequenas peças de teatro. Bons tempos aqueles. Devo muito de minha formação pessoal a este período.
Passei alguns anos londe de Foz. Quando decidi voltar a morar aqui, logo fiquei sabendo da reforma do Gramadão e uma ansiedade tomou-me conta. Já do avião, tentei visualizar o espaço e, logo que desembarquei, corri para lá. Gostei muito do que vi. Uma área adaptada ao uso público e, o melhor, sendo amplamente utilizado pela população. Vi, nos dias de calor, centenas de pessoas ali: caminhando, jogando bola e levando os filhos (e namorados e namoradas) para passear. Tanto pela manhã, quanto pelo final da tarde. Acredito termos ali uma ação urbana correta e de valorização do ser humano e de sua qualidade de vida.
Agora é rotina em minha vida visitar o Gramadão. Gosto muito da Vila A, até gostaria de voltar a morar por lá. Só que, nas últimas visitas, tenho ficado triste com o que vejo por lá. Não irei falar aqui das casas de “dois pisos” que existem por lá, descaracterizando o bairro, ou da explosão demográfica e comercial de algumas avenidas. Falarei especificamento do Gramadão.
O que era para ser um espaço familiar virou um verdadeiro ponto de encontro de imbecís. Calma leitor, irei explicar a afirmação. Imbecíl, neste caso, seria aquele cidadão que vai a um local de convivência pública e domina a área, o visual e os ouvidos das pessoas, parando seus carros imbecilmente equipados em contra-mão (ou em fila dupla) e ligando músicas diversas, em volumes absurdos. Inclusives alguns competem entre sim, atormentando a vida da grande maioria dos usuários do espaço.
Outro fato interessante (e triste) é a presença de alguns ambulantes no local (não todos, fique claro), principalmente os vendedores de bebidas alcóolicas. No pequeno período que observei (domingo passado) diversos adolescentes compraram “caipirinhas”, “capetas” e tequilas. A venda é indiscriminada, não fiscalizada e os vendedores provavelmente não tem o curso de Higiene Alimentar, exigido para todos os ambulantes que vendem alimentos e bebidas. Apesar da Polícia Militar estar presente, pouco faz para inibir as irregularidades.
Nossa cidade necessita de espaços públicos familiares, lúdicos e saudáveis, para atender a sua população. Estes espaços melhoram a qualidade de vida, contribuem para a saúde pública e dão cidadania às pessoas. Controlar a presença de ilegalidades e excessos nesses locais é, ao mesmo tempo, atrair mais famílias, mais namorados e namoradas e mais cidadãos de verdade.
* Luiz Henrique Dias é escritor, estudante de Arquitetura e Urbanismo e Secretário de Organização Política do PCdoB de Foz do Iguaçu. Ele arranjou briga um dia desses porque parou em um sinal e, ensurdecido com a música irritante que o motorista ao lado ouvia em som altíssimo, fechou o vidro do carro e, com isso, despertou a ira do imbecíl. O Luiz não entendeu que o rapaz gastou muito dinheiro para colocar o som no carro e precisa, agora, que todos ouçam a música.
Nenhum comentário:
Postar um comentário